viernes, 27 de agosto de 2010

"Não queremos reabrir feridas, apenas recuperar os restos dos nossos familiares” – neto de fuzilado em 1936

Exumações em Aguilar de la Fontera (II)
(com video)

Córdoba, 24 julho 2010

A memória histórica "é simplesmente recuperar os restos de uma gente que está enterrada como cães”, afirma à Lusa Rafael Raya Bonilla, 48 anos, neto de um fuzilado na guerra civil espanhola, na localidade de Aguilar de la Frontera, província de Córdoba.
O avô, José Bonilla Varo, foi assassinado a 28 de julho de 1936, quatro dias depois da aldeia cair em mãos das tropas sublevadas contra a II República. Era um trabalhador do campo, tinha 34 anos e saiu de casa para ir beber água à fonte, quando “passou um camião dos ‘nacionais’ e o levou”.
A mulher de José Bonilla Varo “soube que o tinham levado para o quartel da Guarda Civil e foi-lhe levar um pedaço de pão e uma manta”, mas o guarda de turno disse-lhe que o marido “não precisava de nada, porque o tinham matado”, conta Rafael Bonilla Varo, 74 anos depois do sucedido.
O avô “não estava filiado em nenhum partido político” e tinha cinco filhos pequenos, entre os quais a mãe de Rafael, que então tinha cinco anos.
“A minha mãe diz que não entra neste cemitério até saber onde estão os restos do pai”, conta Rafael, que afirma “não ter nenhum desejo de vingança".
"Seria absurdo”, porque “quem matou o meu avô está morto e se tem um filho, ou um neto, não tem culpa disso”. O desejo de Rafael é “apenas recuperar os restos" do avô e poder dizer à mãe “aqui tens os restos do teu pai!”.

video

Segundo Rafael Raya Bonilla, “o juiz Garzón apenas pretendia recuperar a história de Espanha”, porque “nos livros de História não há nada disto”.
Raya Bonilla pensa que “os filhos diretos” das vítimas da repressão “continuam a ter medo”, como a sua mãe, “que nunca quis falar disto porque lhe inculcaram o temor desde pequena”, dizendo-lhe “se falares matam-te, se falares matam-te!”
“Como pode uma pessoa que tem uma carreira universitária, pensar que isto é reabrir feridas?”, pergunta Rafael. E acrescenta: “Aqui nas aldeias, quem diz isso são as pessoas que têm mais estudos; parece que os que somos mais incultos vemos melhor a realidade que essas pessoas.”

Bruno Rascão, para a Agência Lusa

*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo ortográfico ***

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