viernes, 27 de agosto de 2010

Inibição de Garzón não inviabiliza exumação de vítimas da guerra civil

Exumações em Aguilar de la Fontera (I)
(com video e slideshow)

Córdoba, 24 julho 2010

A Associação de Memória Histórica de Aguilar de la Frontera, em Córdoba, iniciou escavações para localizar 174 vitimas de 114.266 desaparecidos na guerra civil espanhola, uma lista que esteve na origem da controversa investigação do juiz Baltasar Garzón
A 24 de julho de 1936, há exatamente 74 anos, as tropas que atentaram contra a II República espanhola entraram em Aguilar de la Frontera, em Córdoba, e iniciaram “uma repressão brutal, sobretudo dirigida a dirigentes políticos e sindicais”, descreve Rafael Espino, professor de 47 anos e presidente da AREMEHISA (Associação para a Recuperação da Memória Histórica de Aguilar de la Frontera), que procede às escavações em curso no cemitério da localidade.

video

As exumações iniciaram-se a 3 de maio e a equipa da AREMEHISA localizou 47 esqueletos, 35 já retirados das valas comuns situadas entre as lápides do cemitério.
A localização dos enterramentos foi possível graças a “testemunhos orais”, que passaram de geração em geração, “e de pessoas que presenciaram os fuzilamentos”, conta Rafael Espino. Os restos mortais são classificados e armazenados até à realização das provas de ADN, para depois serem entregues aos familiares.
Em 1936 viviam em Aguilar de la Frontera 13.000 habitantes. “Entre os últimos dias de julho e agosto foram fuziladas perto de 80 pessoas, com assassinatos quase diários”, explica o presidente da AREMEHISA. Segundo dados da associação, milhares de pessoas fugiram de Aguilar e a repressão deixou mais de 700 crianças órfãs de pai.
“Pessoa que detinham, pessoa que levavam à esquadra e, no dia seguinte, traziam-na ao cemitério, ou a outro lugar, e fuzilavam-na”, descreve Rafael Espino.
Os arqueólogos trabalham “num espaço muito estreito, quase sem luz e praticamente suspensos no ar”. Em cada sepultura, os técnicos encontram “entre dez e quinze pessoas [enterradas] por camadas". Alguns dos cadáveres têm as mãos atadas “com fio elétrico” e pelas posturas foram atirados depois de mortos.
A lista de 174 nomes de pessoas desaparecidas em Aguilar de la Frontera, elaborada pela AREMEHISA, integra a de 114.266 vitimas que levou o juiz Baltasar Garzón a declarar-se competente para investigar os crimes da Guerra Civil, em outubro de 2008.
Um mês depois, o magistrado, agora suspenso pela Audiência Nacional, afastou-se do processo, e as valas que tinha ordenado abrir em toda a Espanha passaram a ser competência dos tribunais regionais.

slideshow

As exumações ordenadas por Garzón foram suspensas, não podendo realizar-se ao abrigo da Lei de Memoria Histórica, aprovada em dezembro de 2007, até que os tribunais regionais se pronunciassem. No caso de Aguilar de la Frontera, o processo foi arquivado em janeiro e a AREMEHISA solicitou um subsidio ao Ministério da Presidência, que concedeu 49.000 euros.
Rafael Espino é também o diretor da exumação e familiar de sete assassinados em 1936. “Da parte paterna desapareceram o meu avô, um irmão dele, um primo e um sobrinho de 17 anos”. Levaram os quatro para a esquadra e "no dia 1 agosto fuzilaram-nos contra a parede do cemitério".
Da parte materna foram vitimas um tio avô, que era o presidente da câmara municipal, José Maria León, e dois irmãos do avô, “os irmãos Navarro”. Eram militantes socialistas, e tinham protagonismo politico: “Foi o suficiente para que os matassem.”

Bruno Rascão, para a Agência Lusa

*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***

No hay comentarios:

Publicar un comentario