viernes, 27 de agosto de 2010

Exumações das vítimas da guerra civil vão além de fins científicos, diz arqueólogo

Exumações em Aguilar de la Fontera (III)
(com video)

Córdoba, 24 julho 2010

As exumações dos mortos da guerra civil espanhola não têm "um mero fim cientifico”, declara à Lusa o arqueólogo Jorge Cepillo, para quem os trabalhos vão "mais além, porque é uma forma de compensar as vitimas da ditadura de Franco”.
Jorge Cepillo, um dos técnicos da AREMEHISA (Associação para a Recuperação da Memória Histórica de Aguilar de la Frontera) trabalha nas escavações do cemitério de Aguilar de la Frontera, na província de Córdoba, iniciadas a 3 de maio de 2010, onde foram localizados 47 esqueletos, dos quais 35 já foram recuperados das valas comuns.
O arqueólogo considera “um contra-senso que não exista uma normativa de âmbito nacional” aplicável “a todas as intervenções” e destaca que, no caso das exumações de Aguilar de la Frontera, o protocolo de atuação, aprovado pela Junta da Andaluzia em setembro de 2009, “não seja aplicável, porque o subsidio foi concedido pelo Ministério da Presidência”.
Cepillo exemplifica dizendo que o Comissariado para a Memoria Histórica da Junta da Andaluzia “não exige que se cumpra o protocolo, a não ser que dê um subsídio”, e que “se deram casos em que não se aplicou o devido rigor cientifico, nem se consultou os familiares” das vítimas.

video

No caso de Aguilar de la Frontera, o arqueólogo afirma que “a intervenção está a ser realizada com parâmetros científicos e provas periciais que, no futuro, poderão ser utilizadas como provas” de que em Espanha se cometeram crimes contra a humanidade.
No entanto, Jorge Cepillo pensa que o país “teria que mudar muito para que se abrisse uma causa judicial” sobre os crimes do franquismo. Referindo-se à investigação que afastou o juiz Baltasar Garzón da Audiência Nacional, diz que “a justiça não desempenhou o papel desejado pelos cidadãos”.
Cepillo, neto de uma vitima da repressão, salienta que “o objetivo principal [destas intervenções] é ressarcir os familiares das vitimas”, mas defende que “crimes desta magnitude não podem ficar impunes e praticamente ausentes dos livros de história”.
Por essa razão considera que “é um tema que devia ser assumido pelo Estado” e “não devia ter sido deixado nas mãos dos familiares, que só querem a reparação”. Nessa linha de pensamento, defende que “as associações de memória histórica não se podem converter em empresas que gerem dinheiro para se auto-dignificarem a si mesmas”.

Bruno Rascão, para a Agência Lusa 

*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo ortográfico ***

No hay comentarios:

Publicar un comentario