miércoles, 16 de junio de 2010

Encontros com a Memória Histórica: "Espanha é um país de desaparecidos"

Sevilha, 22 mai (Lusa) - O comissário da Memória Histórica da Junta da Andaluzia, Juan Gallo, lembra que "Espanha é um país de desaparecidos" e não esconde a indignação perante o processo que pende sobre o juiz Baltasar Garzón por investigar os crimes cometidos durante o franquismo.


Questionado pela Lusa sobre o caso de Baltasar Garzón, o primeiro juiz que iniciou uma investigação criminal ao período franquista, o comissário considerou que "a paz e o entendimento entre as pessoas tem que assentar sobre a verdade" e a recuperação da memória histórica não pode ser plena sem o amparo pela justiça.
"Sobre o esquecimento, a amnésia e a ocultação dos acontecimentos não há verdadeira paz", prosseguiu Juan Gallo, que esteve esta semana a esclarecer 50 alunos da escola secundária de Nervión, em Sevilha, no âmbito dos "Encontros com a Memória Histórica", promovidos pela Associação Arquivo Guerra e Exílo e que terminaram na sexta feira na cidade andaluza.
No entanto, Juan Gallo esclareceu que "a Junta da Andaluzia nunca encarou a hipótese de perseguir ou denunciar os criminosos responsáveis dessas barbaridades", por considerar "que essa missão corresponde aos juízes".
Ao abrigo da Lei de Amnistia aprovada em 1977, todas as denúncias, apresentadas por familiares e associações, de crimes cometidos durante a ditadura espanhola são arquivadas.
Nos "Encontros com a Memória Histórica" estiveram também presentes vítimas do franquismo que deram o seu testemunho e proferiram palestras dirigidas aos alunos de várias escolas da província de Sevilha.
Juan Gallo sublinhou, perante a audiência de jovens que "Espanha é um país de desaparecidos", tal como "a Argentina, o Uruguai e o Chile", e destacou alguns dos acontecimentos mais dramáticos desses tempos.
Em Espanha "desapareceu muita gente da qual nunca mais se soube nada", e "o franquismo não se limitava a assassinar as pessoas, depois roubava-as", aplicando às famílias republicanas "expedientes de responsabilidades políticas". E exemplificou: "A um pobre operário matavam-no, e depois, à viúva tiravam-lhe a casa, o porco, a cama de casal, tudo!"
Juan Gallo destacou a necessidade de transmitir a história às novas gerações, porque "há muitas coisas que não se sabem". A meio da intervenção apontou para o fundo da sala, para uma cópia, feita pelos alunos da escola, de Guernica, o célebre quadro de Picasso, e afirmou: "Este quadro é famoso no mundo inteiro, mas também a cidade de Jaén foi arrasada pela aviação alemã, só que Jaén não teve a sorte de ter um Picasso que a pintasse".
À saída da conferência, Sílvia Rubio, uma estudante de 18 anos, considerou que a sua geração "não sabe verdadeiramente o que se passou" durante a guerra civil e o franquismo. E destacou a importância de eventos como este, até porque muitos dos seus colegas "desqualificam pessoas, sem saberem nada disto".

Bruno Rascão, para a Agência Lusa

*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo ortográfico ***

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